sábado, 10 de outubro de 2015

grupo de risco x comportamento de risco

Hoje vou fazer uma postagem meio didática e rápida, tirando o foco do "meu diário" (que pretendo retomar em breve),

Em algumas páginas e vídeos na internet vi que (ainda) é comum classificar homossexuais masculinos como "grupo de risco" no que se refere à contaminação por HIV.

Na forma de uma metáfora, tento explicar porque acredito que esse conceito além de ilógico, é injusto:

Alguns (muitos) estudos relacionam o uso de celular à incidência de câncer. Algum de nós cogita parar de usar? Pois é.. Imagine uma ilha, na qual os habitantes geralmente só conseguem se comunicar por celular - existe o sinal de fumaça, dá até pra ficar só no grito também... mas não é tão eficiente e divertido (!?!) - e lá foi observada uma incidência maior de câncer, obviamente. Seria correto afirmar que aqueles habitantes são um "grupo de risco" de câncer ou que o fato de usarem o celular seria o comportamento de risco? Muitas das pessoas nas metrópoles e em outras cidades usam o celular tanto quanto eles e não são englobadas em tal grupo, então por que estigmatizá-los? 



                                               muita água

Na tal ilha não acontece nada de muito diferente de todos os outros territórios, então com certeza seria muito melhor criar uma ponte entre seus habitantes  (que são tão homo sapiens com direitos e deveres quanto os das outras cidades) e o continente - e deixar apenas o aviso sobre o comportamento de risco, que é o uso do celular, e que - pasmem! - pode ser protegido com o simples uso de uma capinha (tem da Apple, Samsung, LG, Motorola... em várias cores e pra todos os modelos de telefone!).

:)

domingo, 27 de setembro de 2015

Just Like A Pill




Oi bloggers!!! rs..

Ontem, 26/09, foi o primeiro dia em que tomei o remédio que tomarei pelo resto da minha vida (ou não!?! quem sabe as evoluções que vem por aí!).

Confesso que estava com um pouco de medo de um efeito colateral em específico: sonhos/pesadelos muito vívidos e "reais" - uma vez que já tenho alguns pesadelos bem estranhos, mas dormi super bem por quase oito horas e não tive nenhum pesadelo, inclusive até sonhei!


Fico feliz que hoje exista a possibilidade de tomar apenas uma pílula (com três drogas combinadas) e de resto poder viver minha vida da forma mais normal possível, apenas tomando cuidado redobrado nas relações sexuais e de forma geral prestando maior atenção à saúde (além de uma frequência maior e chatinha de exames de sangue para medir a presença do vírus no organismo, mas isso não é nada diante do que tantas pessoas já passaram!).

Hoje o post é curto, só pra marcar essa data e esse começo!

P.S.: nessa segunda "jornada" na rede pública fui atendido de maneira bem melhor e esclarecida. Assim que cheguei para pegar o remédio fui encaminhado à uma psicóloga muito simpática e sem qualquer tipo de preconceitos - o que sempre ajuda para uma conversa franca e natural- assim como no momento da entrega fui orientado por uma farmacêutica objetivamente sobre a melhor forma de tomar o remédio, horários, efeitos colaterais, etc.(nada que meu médico já não havia me explicado, mas é sempre bom pensar que pessoas que não tiveram o mesmo apoio que eu também vão receber o mesmo tratamento - além do que se sentir cuidado e amparado é sempre bom, né! hehe).

sábado, 19 de setembro de 2015

paranoia do stand-by

Sábado de manhã é um momento que gosto muito! 

Bom, sobre o assunto que costumo falar por aqui: já estou a um bom tempo esperando os resultados dos exames para quantificar a quantidade de vírus no meu organismo, dentre outros. Apenas com o resultado em mãos posso ir ao infectologista novamente e a partir daí saber como proceder para tratar a presença do vírus no meu corpo. (Visitei também um infectologista do SUS, no mesmo lugar em que se retira gratuitamente o coquetel de remédios antiaids. Este médico da rede pública, mais objetivo - talvez por viver diariamente o processo - trata com mais praticidade a questão e apenas com o resultado positivo já me receitou o coquetel "padrão" pra quem vai começar a tomar os antirretrovirais. Senti muita confiança nele e de forma alguma descrédito, mas resolvi esperar a posição do infectologista visitado primeiro - que me atende pelo plano de saúde particular - por acreditar que com ele posso ter um contato mais direto caso necessário).


                                                                                                                                  
 

  bonsai lindo daqui de casa, que acabou morrendo :/

Preciso dizer que, apesar de sabermos que os serviços públicos no Brasil são um tanto quanto precários, dentro dos limites de infraestrutura disponíveis eu fui muito bem atendido. Talvez a única dificuldade seja encontrar o lugar correto pra se informar e saber quais procedimentos tomar depois de receber o diagnóstico, mas uma vez encontrado o centro de referência da minha cidade isso não foi um problema. Um pouco mais de preparo no sistema de saúde como um todo talvez seja minha única reclamação, pois percebi desinformação em alguns hospitais que visitei antes de ir ao centro de referência. Um enfermeira "me atendeu" em um deles, e, apesar da boa vontade -tentando fazer as vezes do papel que coube aos infectologistas- tentou me acalmar por meio de explicações sobre o vírus, mas lançou um: "Calma que você ainda pode viver uns 10 anos".
 

Claro que hoje eu sei que a expectativa de vida pra quem se trata com o coquetel e toma algumas medidas de vida mais saudáveis é a mesma de uma pessoa com HIV negativo, mas naquele momento em que ainda estava muito desequilibrado com o diagnóstico fiquei meio "não quero viver só mais dez anos, caralho!!".
 

Sobre a paranoia do título do post: nesse (pra mim muito longo) tempo de espera entre a descoberta de que tenho o vírus e começo do tratamento, passo por alguns momentos em que qualquer coisa que sinto está relacionada ao fato de tê-lo.
 

Ontem por volta de 11:30 da manhã estava correndo no parque sob muito sol e já quase no final do exercício comecei a sentir fraqueza, muita pressão no peito e taquicardia. Se isso acontecesse há dois meses atrás talvez eu só diminuiria o ritmo e voltaria andando devagar para casa, mas ontem senti medo de morrer e, num ciclo vicioso, o medo só piorou as sensações e vivi um momento bem esquisito (sentei por um tempo e à tarde fui ao pronto socorro - não foi nada grave, talvez um pouco de desidratação ou uma crise de ansiedade). Essa ideia fixa de se "estar doente" não faz nada bem, e talvez eu esteja esperando o momento em que sinta estar fazendo algo pra tratar essa minha condição para, aí sim, poder "desligar" minha mente e viver a minha vida como antes. Acho que relaxar quanto à tudo isso é um processo que acontece pouco a pouco e apesar de sim, sentir-me um pouco mais debilitado desde ano passado, (mais aftas, infecções que demoram mais pra sarar e dores nas juntas, por exemplo) não posso ser irresponsável e atribuir tudo agora ao fato de ser HIV positivo. 

Depois de começar o tratamento e (talvez?) ver alguns resultados/mudanças vou poder responder à mim mesmo se um fator muito prejudicial nessa história toda seja a tal da paranoia haha!

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

cultura positiva?

Minha vontade de escrever hoje veio depois de um diálogo de uma das
minhas séries favoritas, Shameless. Um dos personagens, Kevin, conta à
sua mulher que dada a impossibilidade dela de amamentar as gêmeas dos
dois, ele deixou uma das garotas de programa russas que trabalham em seu
bar amamentá-las. Sua esposa, Veronica, prontamente responde:

"Não quero minhas filhas tomando leite aidético".

É claro que esse tipo de fala vem de um lugar de preconceito e
ignorância, mas dentro do contexto da série é até tranquilo, já que
Shameless e bem despudorada e nada politicamente correta. Mas me fez
pensar se antes de me descobrir HIV positivo eu não teria o mesmo tipo
de reação, e se sim, refletir sobre o porquê.

Óbvio que depois dessas duas semanas desde o diagnóstico eu já vi alguns filmes e pesquisei muita coisa sobre como foi representado o HIV e a AIDS na cultura, mas quero que minha reflexão se baseie em como eu enxergava
essa questão antes.

(À titulo de curiosidade: no dia que soube, uma das primeiras coisas que joguei no google foi "Famosos com AIDS" - acho que essa coisa de representação e pertencimento é bem louca mesmo! haha)

Acho que não só pra mim, mas pra quase todo brasileiro, quando se pensa em AIDS se pensa no Cazuza esquálido. É realmente uma imagem marcante e difícil de dissociar do imaginário coletivo, mesmo que hoje a realidade seja bem diferente. Eu acho Cazuza o máximo! Vi o musical ano passado e imagino qual não foi sua dor quando a Veja colocou na capa a manchete: "Cazuza- Uma vítima da AIDS agoniza em praça pública." - passagem retratada na peça e mais um exemplo de como a mídia já ofereceu desserviços à identidade da coisa toda.

Outra coisa que eu lembraria se me perguntassem antes sobre representação do HIV na mídia seria da Érica em Malhação (joguei no google agora e descobri que isso foi em 2000!). Eu só lembro que na época eu não entendia muito, mas ficava pensando que o Touro devia amar muito ela mesmo, porque tudo parecia bem sério e pesado! 


Mesmo que eu não me lembre como foi tratado o assunto, hoje acho que foi corajosa a iniciativa de tratá-lo em uma novela das 17h -que tem um público bem jovem- e principalmente por ser no nosso país, que é conservador-hipócrita.

Acho que o post já está muito grande, daí pra terminar eu vou colocar o vídeo dessa música antiga que eu baixei depois de ouvir na série Looking (que aliás tambem trata do assunto de uma forma bem maneira), poucos dias antes de saber do meu resultado. Era uma das músicas que eu escutava no iPod naquela semana. Vim a descobrir depois que o vocalista da banda é HIV positivo então achei uma coincidência legal do destino. ;)





baby please give a little respect to me!

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

11

Dois de setembro começou com "grandes emoções". Na segunda-feira, fui ao infectologista com o resultado do meu exame. Ele me deu todas as explicações científicas sobre a ação do vírus, o que muda no estilo de vida, dentre outras coisas. Nestes meus relatos provavelmente não vou entrar nos aspectos "técnicos" do processo todo, escrevo para desabafar sobre como estou me sentindo em relação ao que está acontecendo e como percebo essa nova realidade.

Voltando ao dia de hoje, fui ao laboratório fazer os exames de sangue para verificar a carga viral do HIV no meu organismo (basicamente quantificar a presença do vírus) e mais muitos outros exames pedidos por meu médico. Senti bastante confiança e objetividade nele, isso me passou uma segurança muito maior do que o amontoado de informações que encontramos na internet.

Na cadeira do exame tomei o primeio susto quando a enfermeira chega com nada menos que ONZE tubos coletores, sinceramente achei que com algumas amostras se realizavam todos os exames - aparentemente não!! A coleta do sangue foi tranquila, "quase uma doação" - brincou ela, pela quantidade. O problema foi ao fazer um exame (acho que pra verificar tuberculose) em que injetam uma substância no braço para, ao longo dos dias, verificarem se ocorre algum tipo de reação. Sou muito ligado e fico sempre observando tudo, o que me deixa afetar facilmente pelo que acontece no ambiente...




um dia topei com esse caracol no meio da calçada!



Pode-se imaginar que fiquei meio maluco  quando percebi uma certa tensão na enfermeira, seguida do seguinte comentário, para uma outra: 


"Não está indo, o que tá dando errado? Se eu continuar pressionando vai explodir"

Sabe-se lá o que explodiria, a seringa ou qualquer outra coisa, mas nesse momento já me veio à cabeça a imagem do meu braço inchando e explodindo em sangue por todo aquele lugar rs. Foi aí que, acho eu, minha pressão caiu, desmaiei por alguns segundos, acordei enjoado e com vontade de vomitar. Isso só tinha me acontecido quando era criança, e do alto do meu 1.87m fiquei até envergonhado da situação toda, mas sim, fui levado para dar uma deitadinha até ficar bem de novo.


Sei que esse primeiro mês vai ser difícil, afinal é o momento de ajeitar tudo para que, aí sim, eu possa seguir a vida normalmente. Claro que não vejo a hora dessa fase passar. :)

domingo, 30 de agosto de 2015

A descoberta

Quem quer que você seja, seja bem-vindo! :)
                                       chicletes em formato de bolinhas de tênis



Hoje, domingo, 30/08/2015, faz seis dias que abri meu exame de HIV. Sentado em um parque da minha cidade, havia folheado as páginas dos outros exames de DSTs e estava tranquilo. O exame de HIV era o último e, na última folha, a sétima, em negrito, a palavra que ainda pulsa nos meus pensamentos: REAGENTE.

Era meio-dia de segunda-feira, muito calor, daquele calor que te deixa afobado, que catalisa qualquer reação.

Eu sempre fui um cara que me preparei para as situações - fico pensando em várias maneiras de me comportar em cada uma delas. São raras as vezes em que eu sou pego desprevenido, e essa, como vocês podem imaginar, foi uma delas.

Realmente não esperava. Em 8 anos de vida sexual fiz sexo sem camisinha duas vezes, tenho uma saúde "normal" e simplesmente nunca me encaixei no que muita gente ainda acredita ser a imagem de alguém HIV positivo.

Dois minutos depois do REAGENTE eu estava, claro, chorando um pouco. No mais primal dos pedidos de socorro liguei pra minha mãe, que em 15 minutos estava lá. Dentro do carro encontrei conforto pro calor no ar-condicionado e pra alma no abraço.

Minha mãe já suspeitava. Dois dias depois de ter tirado o sangue, eu recebi uma ligação do laboratório dizendo que eu precisaria voltar lá para uma nova coleta, devido à coagulação da minha primeira amostra. Só achei muito chato,xinguei eles de burros na minha cabeça, mas em nenhum momento pensei que seria um exame de confirmação...


Almoçamos em um restaurante sem trocar muitas palavras. Tudo havia sido dito no carro e a cada pedido de desculpas meu, palavras de compreensão e acolhimento da minha mãe. Ela citou um ex-namorado já falecido, que ao ser repreendido por ela quando bateu o carro- que não poderia mais dirigir- na fase terminal do câncer, disse: "Não puna quem já está sendo punido pela vida". Embora eu não ache que qualquer doença seja uma punição por algo, eu entendi o que ela quis dizer.
 

 Lembro de chegar em casa e me olhar no espelho, esticar meu fio de cabelo e pensar: CABELO AIDÉTICO. Olhar nos meus olhos e ver OLHOS AIDÉTICOS e assim continuar por cada pedaço do meu corpo. (Ser HIV positivo não quer dizer que você tenha a doença AIDS, mas naquele momento meus preconceitos, medos e julgamentos eram implacáveis e cruéis).

O próximo passo, na minha cabeça, não poderia ser outro senão avisar meu namorado. Pelo WhatsApp perguntei quando ele poderia falar comigo por Skype, já que estamos a dois meses separados por 9.095 quilômetros... mas sobre isso só quero escrever outro dia.