domingo, 30 de agosto de 2015

A descoberta

Quem quer que você seja, seja bem-vindo! :)
                                       chicletes em formato de bolinhas de tênis



Hoje, domingo, 30/08/2015, faz seis dias que abri meu exame de HIV. Sentado em um parque da minha cidade, havia folheado as páginas dos outros exames de DSTs e estava tranquilo. O exame de HIV era o último e, na última folha, a sétima, em negrito, a palavra que ainda pulsa nos meus pensamentos: REAGENTE.

Era meio-dia de segunda-feira, muito calor, daquele calor que te deixa afobado, que catalisa qualquer reação.

Eu sempre fui um cara que me preparei para as situações - fico pensando em várias maneiras de me comportar em cada uma delas. São raras as vezes em que eu sou pego desprevenido, e essa, como vocês podem imaginar, foi uma delas.

Realmente não esperava. Em 8 anos de vida sexual fiz sexo sem camisinha duas vezes, tenho uma saúde "normal" e simplesmente nunca me encaixei no que muita gente ainda acredita ser a imagem de alguém HIV positivo.

Dois minutos depois do REAGENTE eu estava, claro, chorando um pouco. No mais primal dos pedidos de socorro liguei pra minha mãe, que em 15 minutos estava lá. Dentro do carro encontrei conforto pro calor no ar-condicionado e pra alma no abraço.

Minha mãe já suspeitava. Dois dias depois de ter tirado o sangue, eu recebi uma ligação do laboratório dizendo que eu precisaria voltar lá para uma nova coleta, devido à coagulação da minha primeira amostra. Só achei muito chato,xinguei eles de burros na minha cabeça, mas em nenhum momento pensei que seria um exame de confirmação...


Almoçamos em um restaurante sem trocar muitas palavras. Tudo havia sido dito no carro e a cada pedido de desculpas meu, palavras de compreensão e acolhimento da minha mãe. Ela citou um ex-namorado já falecido, que ao ser repreendido por ela quando bateu o carro- que não poderia mais dirigir- na fase terminal do câncer, disse: "Não puna quem já está sendo punido pela vida". Embora eu não ache que qualquer doença seja uma punição por algo, eu entendi o que ela quis dizer.
 

 Lembro de chegar em casa e me olhar no espelho, esticar meu fio de cabelo e pensar: CABELO AIDÉTICO. Olhar nos meus olhos e ver OLHOS AIDÉTICOS e assim continuar por cada pedaço do meu corpo. (Ser HIV positivo não quer dizer que você tenha a doença AIDS, mas naquele momento meus preconceitos, medos e julgamentos eram implacáveis e cruéis).

O próximo passo, na minha cabeça, não poderia ser outro senão avisar meu namorado. Pelo WhatsApp perguntei quando ele poderia falar comigo por Skype, já que estamos a dois meses separados por 9.095 quilômetros... mas sobre isso só quero escrever outro dia.



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